Observamos a magnificência das árvores, a sua quietude segura. Nasce em cada inspiração o desejo crescente da metamorfose. Sentimos que se pudéssemos desejar ainda um pouco mais, ou respirar um pouco mais fundo a sua exalação, poderiam crescer-nos minúsculas raízes nos pés, ou folhas nas pontas dos dedos. Mas a câmara denuncia o tempo fugaz da nossa humanidade. Trai-nos a ânsia pulsante da nossa seiva íntima. A impossibilidade da metamorfose induz este perfeito estado de comunhão.
trabalho em progresso
Cada árvore é um ser para ser em nós
Para ver uma árvore não basta vê-la
A árvore é uma lenta reverência
uma presença reminiscente
uma habitação perdida
e encontrada
À sombra de uma árvore
o tempo já não é o tempo
mas a magia de um instante que começa sem fim
a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas
e de sombras interiores
nós habitamos a árvore com a nossa respiração
com a da árvore
com a árvore nós partilhamos o mundo com os deuses

António Ramos Rosa
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