No final do século XIX, August Strindberg, refletindo sobre o acaso na criação artística, afirma que este, enquanto manifestação da ação da Natureza é talvez a forma mais autêntica de criação.
No oriente Lisboeta, perto de onde o Tejo encontra as portas da cidade, há pequenas praias desconhecidas onde, ao sabor das marés se sobrepõem resíduos de uma vida natural insuspeita, que prevalece sobre os vestígios da ação humana - mais ou menos pessoal, mais ou menos industrial.
Na sua viagem até esta praia - algas, moluscos de várias espécies, caranguejos que largam a sua casca, fios, cordas, tecidos, pedaços de vidro ou cerâmica contaminam-se com a identidade química das águas do Tejo.
As imagens deste projeto são "foto-quimigramas" em papel salgado desses objetos recolhidos, em que se permite que a composição química da água (e todos os outros vestígios químicos que se encontrem na superfície do objeto) faça parte da composição da imagem, em conjunto com a exposição ao sol da peça em si. As imagens assim criadas afastam-se do aspeto visual do objeto (contendo apenas alguns vestígios gráficos da sua existência) aproximando-se mais de um registo da essência (química, física, geográfica, ótica...) das peças recolhidas, permitindo que mais do que a produção mecânica de imagens, estas se formem de acordo com a natureza íntima do próprio objeto.
Back to Top